MANIFESTO DE GRUPOS CATÓLICOS LGBT DO BRASIL
Nós, cristãs e cristãos católic@s LGBT reunidos no I Encontro Nacional de Diversidade Católica no Rio de Janeiro, somos filhas e filhos de Deus e da Igreja. Cremos que Deus é amor , criador de todas as coisas e de todos os seres humanos. Cremos que Ele ama a todos igualmente, chamando-nos à vida em abundância e à liberdade. Cremos em Jesus Cristo, que nos revela a face divina e nos oferece o seu jugo leve e o seu fardo suave , para nos libertar de todo fundamentalismo e opressão. Cremos no Espírito Santo, que age na humanidade continuando e atualizando a obra de Jesus. Como filhos da Igreja, nela batizados, recebemos o dom da fé através de nossos pais e de nossas comunidades. Ao conhecer-nos a nós mesmos, descobrimos a condição homossexual. Somos solidários aos demais LGBT em favor de uma sociedade sem homofobia e sem discriminação.
Alegramo-nos com as palavras e ações do Papa Francisco em favor da renovação da Igreja, convocando-a a dirigir-se às “periferias existenciais”, ao encontro dos que sofrem com as injustiças, com a violência e diversos tipos de conflitos. Concordamos com sua crítica às estruturas caducas, incapazes de acolhimento e fechadas aos novos caminhos que Deus nos apresenta. Sabemos que tudo o que vem d’Ele nos realiza e nos dá a verdadeira alegria e serenidade, porque Deus nos ama e quer apenas o nosso bem . Compartilhamos as exortações do Papa quando diz que o anúncio do amor salvador de Deus precede toda e qualquer obrigação moral e religiosa. Este anúncio deve concentrar-se no essencial, procurando curar todo tipo de ferida e fazer arder o coração, como aconteceu aos discípulos a caminho de Emaús ao encontrarem o Cristo ressuscitado.
A Igreja deve ser sempre a casa aberta do Pai, onde há lugar para todos os que enfrentam fadigas em suas vidas, e não uma alfândega dos sacramentos. O confessionário não deve ser uma sala de tortura, mas um lugar de misericórdia, no qual o Senhor nos estimula a fazer o melhor que pudermos. A Eucaristia não é prêmio dos perfeitos, mas remédio generoso e alimento aos que necessitam5 . A célebre interrogação do Papa deve calar fundo em todos: “se uma pessoa é gay, busca a Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?6”.
A Igreja se prepara para o Sínodo sobre a família, interrogando-se sobre a atenção pastoral às uniões homossexuais. E, caso adotem crianças, como lhes transmitir a fé. Neste contexto, desejamos dar nossa contribuição a partir de nossa vivência cristã. Merecem apoio as iniciativas pastorais dos bispos de acolher, orientar e incluir nas comunidades aqueles que vivem em novas configurações familiares, incluindo as uniões entre pessoas do mesmo sexo, pois estes são desafios inadiáveis7 . É preciso, mais do que nunca, levar em conta a nova compreensão da humanidade a respeito da homossexualidade.
Desde o final do último milênio, as grandes organizações de medicina, saúde pública e psicologia não consideram mais a atração pelo mesmo sexo como doença, distúrbio ou perversão; e proíbem seus profissionais de colaborarem em serviços que proponham a sua cura. É anacrônico considerá-la como uma tendência objetivamente desordenada, bem como encaminhar pessoas LGBT a orações de “cura e libertação”. É profundamente desumano considerar as uniões homoafetivas e suas expressões amorosas como depravação ou imoralidade. Muitos LGBT deixam ou já deixaram a Igreja por se depararem com estas posturas. Todos perdem com isto.
O acolhimento da diversidade e do pluralismo enriquece a todos e testemunha ao mundo a grandeza do amor de Deus. Estamos abert@s ao diálogo construtivo. Temos certeza de que o Espírito Santo há de nos iluminar e fortalecer nesta caminhada.
Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT
Diversidade Católica do Rio de Janeiro (DCRJ)
Grupo de Ação Pastoral da Diversidade – São Paulo
Diversidade Católica de Belo Horizonte
Diversidade Católica de Brasília, Diversidade Católica do Paraná (DCPR)
Diversidade Católica Ribeirão Preto/SP e região (DCRP)
Pastoral da Diversidade – PERNAMBUCO
Núcleos em formação em Itajaí (SC) e Passos (MG)
Rio de Janeiro, 26 de julho de 2014