Rede Nacional de Grupos Catolicos LGBT

Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT – Organização Sem Fins Lucrativos

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LGBTQIA+, você tem orgulho de que? Ter essa identidade e/ou orientação não significa imediatamente assumi-la. Isso também requer um processo de amadurecimento, de autoafirmação em que deixamos de nos importar com a opinião dos outros para resgatar e afirmar nossa própria verdade.

Alguns anos atrás, um vereador conservador, religioso e moralista, propôs à Câmara Municipal de São Paulo, uma lei que instituía o assim chamado “Dia do Orgulho Hétero”. Não demorou muito para que viessem as gozações que, entre elas, perguntam: “É tão difícil assim ser heterossexual???”. Esse contexto levou a nossa comunidade a refletir sobre o sentido de usarmos o termo “orgulho” quando nos referimos ao dia em que celebramos uma verdadeira virada na percepção das pessoas LGBTQIA+ sobre si mesmas. Evidentemente, a lei nem chegou a ser votada…

É claro que ninguém, em sã consciência, deveria dizer que tem orgulho por ter olhos claros, ser branco etc. ou qualquer outra característica pessoal sua que é inata. E embora, a meu ver, ninguém nasce isso ou aquilo em termos de sexualidade, porque essa na verdade é o resultado de nossas experiências e de como as assimilamos e expressamos. O fato é que, num mundo em que ter uma orientação sexual ou uma identidade de gênero que foge ao padrão “tradicional”, isto é, o da maioria das pessoas, exige de cada um/a de nós uma atitude de ousadia e de coragem.

Ter essa identidade e/ou orientação não significa imediatamente assumi-la. Isso também requer um processo de amadurecimento, de autoafirmação em que deixamos de nos importar com a opinião dos outros para resgatar e afirmar nossa própria verdade. E dessa nossa força interior, que é tanto individual quanto coletiva – afinal, somos uma comunidade em que devemos nos proteger uns aos outros – surge realmente um sentimento de orgulho. Por não sucumbirmos, por não abaixarmos a cabeça, pela valentia de sermos o que somos, mesmo vivendo num país ainda tão marcado pela violência verbal e física contra as pessoas LGBTQIA+.

Historicamente, fomos considerados “pervertidos”, depois “criminosos” em muitos países e finalmente “doentes” pela medicina, em particular, pela psiquiatria. Para piorar tudo isso, essas condenações estiveram durante séculos embasadas numa visão que nos dizia sermos “contrários ao plano de Deus” e, portanto, “pecadores”. Esse é inclusive o desafio maior de nossa Rede Nacional de Grupos Católicos LGBTI: o de lutar pelo nosso reconhecimento, dentro e fora da Igreja, de sermos filhas e filhos muito amados por Deus!

Por isso, já há uns bons anos, se formaram estes grupos em que nos reunimos para celebrar a nossa fé num Deus que é antes de tudo um Pai e uma Mãe amorosos, o que nos torna irmãs e irmãos uns dos outros e que nos pede para vivermos em solidariedade plena em que ninguém seja excluídos. Tanto os que vivem nas periferias geográficas, sociais e econômicas, quanto aquelas e aqueles que o Papa Francisco denominou “periferias existenciais”. Nós também temos fome de Deus! Também nos sentimos chamados a anunciar e a testemunhar o Evangelho de Jesus Cristo…

Por isso, sigamos, sim, tendo orgulho de termos aceitado o convite que Deus nos faz, através do Espírito Santo, de construir um mundo de justiça, paz e amor, alimentados por sua Palavra, fortalecidos pelo Pão da Vida e vivendo em comunhão com a Trindade, com a Igreja e entre nós.

Lula Ramires
Grupo de Ação Pastoral da Diversidade – São Paulo – SP
Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT+