Todos os anos, setembro se torna um tempo especial para os católicos no Brasil, quando a Igreja celebra o Mês da Bíblia. Esta tradição, instituída pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em 1971, tem como principal objetivo incentivar a leitura, a reflexão e o estudo das Sagradas Escrituras, aproximando os fiéis da Palavra de Deus e proporcionando-lhes uma oportunidade única de aprofundar sua fé e espiritualidade.
A escolha do mês de setembro está ligada à festa de São Jerônimo, celebrada no dia 30, reconhecido como o tradutor da Bíblia para o latim, a versão conhecida como Vulgata. Este feito de São Jerônimo permitiu que a Bíblia fosse acessível a um público maior, promovendo uma compreensão mais ampla das Escrituras. Sua dedicação e zelo pela Palavra de Deus são um exemplo claro de como o estudo da Bíblia pode transformar vidas e fortalecer a fé.
A Bíblia, em sua essência, é muito mais do que um livro sagrado. Ela é a voz de Deus que se manifesta aos seres humanos, iluminando seus caminhos e revelando o propósito divino. Nesse sentido, o Mês da Bíblia não é apenas uma oportunidade para ler as Escrituras, mas sim um convite ao encontro profundo com Deus por meio de Sua Palavra. É o momento em que os fiéis são chamados a abrir seus corações e mentes para acolher as mensagens de amor, esperança, perdão e justiça que a Bíblia transmite.
Este encontro com a Palavra também promove o fortalecimento da fé. Em suas reflexões, São João Paulo II recordou a importância da fé em um trecho poético de Trilussa: “Aquela velhinha cega, que encontrei / na tarde em que me perdi no meio do bosque, / disse-me: — se o caminho não o sabes / vou acompanhar-te eu, que o conheço. / Se tens a força de vir atrás de mim / de vez em quando te chamarei, até lá ao fundo, onde há um cipreste, / até lá acima, onde há uma cruz. Eu respondi: Assim será…, mas acho esquisito / que me possa guiar quem não vê… / A cega, então, pegou-me na mão / e suspirou: — Caminha. — Era a fé “. (São João Paulo II, setembro de 1978).
Essa passagem expressa, de maneira simbólica, o papel que a fé exerce na vida das pessoas. Mesmo sem enxergar o caminho com clareza, a fé nos conduz, assim como a Palavra de Deus serve de guia para o nosso coração. A fé é, muitas vezes, o apoio que nos guia em momentos de incerteza, tal como a cegueira da velhinha que, paradoxalmente, conhecia o caminho melhor do que aquele que podia enxergar.
O Mês da Bíblia é, portanto, uma oportunidade para nos deixarmos guiar pela Palavra, assim como nos deixamos conduzir pela fé. Quando lemos as Escrituras, não estamos apenas compreendendo um texto, mas nos conectando com a força espiritual que emana delas. É um chamado para a vivência ativa da fé no cotidiano, colocando em prática os ensinamentos de Jesus, promovendo a justiça, o amor e a caridade.
Além disso, a celebração do Mês da Bíblia reforça a importância da leitura comunitária da Palavra. Em diversas paróquias e comunidades, são realizados encontros, grupos de reflexão e estudos bíblicos, onde as pessoas podem partilhar suas interpretações, vivências e dúvidas sobre as passagens lidas. Essa partilha fortalece o sentido de comunhão e unidade, alimentando a fé dos participantes e contribuindo para um maior entendimento das Escrituras.
Ao longo de setembro, os fiéis são convidados a se engajar ativamente na leitura da Bíblia, não como uma obrigação, mas como uma oportunidade de nutrir sua fé e crescer espiritualmente. Como na poesia de Trilussa, é a fé que nos toma pela mão e nos conduz por caminhos que, por vezes, não conseguimos enxergar. A Bíblia, nesse sentido, é a luz que ilumina esses caminhos, revelando a presença constante de Deus em nossas vidas.
A Palavra de Deus é para todos e nos chama a viver a fé de forma concreta, fortalecendo nossa espiritualidade e nos guiando pelo caminho da verdade, do amor e da justiça. É um tempo de reencontro com a Palavra e, acima de tudo, com Deus, que nos fala por meio das Escrituras e nos convida a confiar em Seu amor e em Sua misericórdia. Que, assim como a velhinha da poesia, nós comunidade LGBTQIAPN+ possamos nos deixar guiar pela fé e pela Palavra, afim de mantermos nosso encontro com Deus cada vez mais forte e inflamado de amor.
Paula França
Núcleo Santa Clara – Patos – PB
Rede Nacional de Grupos Católicos LGBT+